Vamos conhecer o período posterior
ao fim da União Soviética e do comunismo, e as transformações que isso
acarretou nos países que já existiam e nos que se formaram a partir desse
momento da história do século XX.
A Rússia e as novas
repúblicas da extinta União Soviética;
Com o fim da União Soviética foi
formada a CEI – Comunidade dos Estados Independentes, em 1991. Das quinze maiores repúblicas que formavam a
URSS doze se integraram a CEI e somente três optaram por não se integrarem:
Estônia, Lituânia e Letônia.
A Rússia, a maior das repúblicas
desses estados independentes, tornou-se Federação Russa e agregou uma a série
de repúblicas menores como repúblicas federadas.
Essas repúblicas independentes e a
Rússia têm entre as suas populações uma enorme variedade de grupos étnicos –
povos com características comuns como a mesma língua, mesma religião, gostos
culturais comuns como música, comidas, roupas.
Durante o regime comunista da União
Soviética todos esses povos foram mantidos sob o domínio dos russos, que são a
maioria étnica dessas populações. Com seu fim, vários desses grupos étnicos,
religiosos ou de nacionalidades diferentes procuraram formar Estados
independentes, através de lutas separatistas. Vamos encontrar essa mesma
situação em alguns países do Leste europeu.
A região do Cáucaso é o principal palco de
conflitos nacionalistas. Na região encontram-se mais de quarenta povos de
diferentes etnias e religiões. Na região os conflitos ocorrem pelas disputas
político-territoriais às quais somam-se as questões étnico-religiosas. Exemplo
do que falamos é a guerra entre a Armênia e o Azerbaijão pela recuperação de
uma parte de seu território que fora anexado ao Azerbaijão durante o período
comunista. Além disso, a maioria Armênia é de cristãos ortodoxos e o Azerbaijão
é muçulmano. A justificativa religiosa para o conflito foi que no território em
disputa a maioria da população era de armênios cristãos.
A guerra da Chechênia pode ser um
outro exemplo (o pior, no sentido de que guerras nunca são um bom exemplo), de
como, os conflitos separatistas podem envolver questões étnico-nacionalistas,
questões religiosas e questões econômicas.
A Chechênia, que é uma pequena
república situada no Cáucaso, região montanhosa da Ásia, cuja grande maioria da
população professa a religião islâmica ou muçulmana, declarou sua independência
em 1991, logo após fim da URSS, quando passou a fazer parte da Federação Russa.
Entretanto continuou buscando sua autonomia total.
Em 1994 a Rússia invadiu a república
chechena originando uma guerra que durou até 1996, e matou mais de 50 mil
pessoas. O fim da guerra não significou o fim dos conflitos que se estendem até
hoje. Os separatistas chechenos, através de ações terroristas, procuram chamar
a atenção para sua causa. A Rússia, porém, tem se negado a abrir negociações
que visem à independência dessa região; que está muito próxima das reservas de
petróleo do Mar Cáspio e é cortada por oleodutos que transportam esse petróleo
para o abastecimento da Rússia e de outros países do Europa.
A Rússia no fim do
segundo milênio
A década de 1990 significou para a
Rússia uma dura transição para o capitalismo e sua economia de mercado. As
reformas econômicas nos governos de Bóris Ieltsin, promovidas nessa intenção
não tiveram efeito para a maioria da população russa. A situação de suas indústrias
ultrapassadas que não podiam concorrer com as indústrias ocidentais e os altos
juros da dívida externa, entre outros fatores, levaram a uma grave crise
econômica. Em 1998 a Rússia não resistiu e seu governo declarou a Moratória (um
aviso aos credores internacionais que vai parar de pagar suas dívidas). Como
vivemos em uma economia já globalizada, a crise da Rússia afetou o mundo
todo. Os Estados Unidos e outros países
da Europa se mobilizaram e o Fundo Monetário Internacional – FMI, liberou um
empréstimo emergencial para a Rússia no valor de 22 bilhões de dólares.
As questões sociais na Rússia se
aprofundaram com a crise econômica. Os salários são muito baixos e o desemprego
é grande. Cresceu o mercado informal de produtos de contrabando. Surgiram,
principalmente nas grandes cidades, organizações criminosas: as máfias russas.
Essas máfias controlam várias atividades econômicas, legais ou ilegais, como
por exemplo, o contrabando, o tráfico de drogas e o tráfico de pessoas. Esse
último é um problema que passou a afetar também a outros países da região e do
Leste europeu.
O agravamento da crise levou à renúncia de
Boris Ieltsin em 1999. Assumiu o governo Vladimir Putin, funcionário do serviço
secreto russo, antiga KGB da época da União Soviética. Putin conseguiu
controlar a crise e melhorar a economia russa, sendo reeleito em 2000. Adotou
uma política mão-de-ferro no que se refere a negociar a separação da república
da Chechênia. E as conseqüências dessa política se fizeram sentir em eventos
sangrentos como o massacre da cidade de Beslam, na Ossétia do Norte. (ver box),
em setembro de 2004.
“A festa do Dia do Saber na Rússia,
que marca o início do ano letivo, no dia 1 de setembro de 2004 se transformou
num pesadelo em Beslan, quando a escola número 1 foi tomada por um comando
checheno. Os terroristas, 32 segundo a versão oficial, se entrincheiraram na
escola com seus reféns como escudos humanos. Suas exigências eram o fim da
guerra e o reconhecimento da independência da Chechênia.
Às 13h05 do dia 3 de setembro, 52
horas depois do começo do seqüestro, houve uma explosão, possivelmente
acidental, segundo a investigação oficial, no ginásio onde os terroristas
mantinham seus reféns. E então começou o massacre. Alguns parentes das vítimas
e testemunhas garantem que a explosão foi resultado de um tiro de canhão de um
dos carros de combate que cercavam a escola. Outros afirmam que as forças de
segurança usaram lança-chamas.
O único terrorista sobrevivente do
comando checheno, Nurpasha Kulayev, foi julgado e condenado em maio de 2006 à
cadeia perpétua. “Numa reunião com mães que perderam seus filhos em Beslan, o
presidente da Duma (Câmara dos Deputados), Boris Grizlov, disse hoje que as
perícias pedidas pela investigação ficarão prontas em janeiro de 2008”.
(01
de setembro de 2007 http://www.noticias.terra.com.br )
O Leste europeu
O final da década de 1980 do século
XX e a década seguinte trouxeram uma onda de transformações políticas e
econômicas que varreu a Europa Oriental, trazendo à tona antigos conflitos
étnicos e questões nacionalistas. Também nessa região, como ocorreu na extinta
União Soviética, surgiram novos países e desapareceram outros, como a Alemanha
Oriental, mudando suas fronteiras geográficas e políticas.
A Tchecoslováquia deu origem a duas
repúblicas: a Eslováquia e a República Tcheca, o que ocorreu em uma transição
pacífica.
Na Iugoslávia, guerras como a da
Bósnia (1992 -1995), onde morreram milhares de pessoas, se tornou outro exemplo
cruel de conflito resultante de questões étnico-nacionalistas. Historicamente essa região sempre foi muito
conflituosa e onde as questões religiosas e políticas sempre serviram de
estopim para guerras e conflitos.
A guerra da Bósnia
A Iugoslávia até o início da década
de 1990 era formada por seis repúblicas: Sérvia, Croácia, Montenegro,
Eslovênia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia, mantidas unidas durante o regime
comunista. Como você já deve imaginar as populações dessas repúblicas são
formadas por diferentes grupos étnicos. Com o fim do regime comunista, em 1991,
a Croácia e Eslovênia se declararam independentes, enfrentando um conflito com
os sérvios que se opuseram à independência. Em 1992, a Macedônia e a Bósnia
também se declararam independentes.
Os sérvios não aceitaram a
Independência da Bósnia, região onde a população estava dividida entre bósnios
(muçulmanos), croatas, e sérvios que eram cerca de 30 % dessa população. O
governo iugoslavo invadiu a região com suas tropas sérvias e se iniciou um
conflito pela disputa do território com mulçumanos e croatas. As tropas
sérvias, exacerbando princípios nacionalistas, passaram a matar civis
muçulmanos e croatas, com objetivo de fazer uma limpeza étnica na região. A
guerra durou até 1995 quando tropas internacionais pressionaram os sérvios a
recuar e a assinar a paz.
Em 1998 um novo conflito ocorre na
região, quando a província de Kosovo, com uma população muçulmana com origem
albanesa, tenta se tornar independente da Sérvia. A reação sérvia é brutal e
leva a uma grande quantidade de refugiados dessa região. Uma nova intervenção
de forças militares internacionais força um acordo e coloca Kosovo sob a
proteção da ONU.
Nesse início de século XXI, da
antiga Iugoslávia restam Sérvia e Montenegro que negociam com supervisão da ONU
tornarem-se dois estados totalmente autônomos.
A
transição econômica no Leste europeu e Rússia
Os países do Leste europeu
procuraram, após o fim do comunismo, adaptar suas economias ao sistema capitalista.
Medidas econômicas como a privatização de empresas estatais, a diminuição dos
investimentos em gastos sociais e a liberalização de importações foram
adotadas.
Em muitos deles essa transição, como na
Rússia, esbarrou nas condições desfavoráveis em que se encontravam as suas
indústrias que precisavam se adaptar as novas tecnologias para serem
competitivas nesse novo mercado. Com o fechamento de muitas dessas indústrias,
o desemprego aumentou, o que levou ao aumento de um mercado informal de trabalho.
Soma-se a isso a ocorrência de uma queda na produção agrícola, embora a maioria
dos países do Leste ainda possuam uma grande parte das suas populações morando
no campo.
Sobre a Rússia no inicio do século
XXI escreveu o jornalista Fen Montaigne da revista National Geographic: “Grande
parte da economia russa está centrada em Moscou, onde uma classe média palpável
emergiu. Mesmo assim, outras tantas cidades vingaram e se tornaram muito ativas
(...) Muitas empresas de maior sucesso se concentram em atividades que mal
existiam na URSS, tais como as de software, processos sofisticados de produção
de alimentos, restaurantes e publicidade.(...)
É preciso dizer que histórias de
sucesso financeiro – e dos trabalhadores de classe média associados a elas –
ainda são ilhas num mar de estagnação. Os salários oficiais da maioria dos
trabalhadores russos giram em torno de US$ 100 por mês, embora muitos tenham
rendimentos não declarados. Estima-se que 20 milhões de pessoas, de uma
população total de 145 milhões, viva abaixo da linha da pobreza, com US$ 31
mensais per capita. A sonegação fiscal é endêmica e algo como 25% a 40% da
economia, calcula-se, corre por baixo do pano. Além disso todos os anos a tênue
camada de russo super ricos, temendo a instabilidade geral e um turbulento
sistema bancário, remete a bancos no exterior entre US$ 20 bilhões e US$ 25
bilhões, grande parte gerada pelas vendas dos abundantes recursos naturais do
seu país.”
Como podemos ver, ainda há muitas
dificuldades a serem enfrentadas nessa transição econômica. No caso do Leste,
um dos caminhos que vem sendo trilhado é o de uma maior integração com a
Europa.
A
entrada na União Européia
Para a grande maioria dos países e das
populações do leste, com exceção talvez da Polônia, da República Tcheca e da
Eslováquia as mudanças para o sistema de livre mercado capitalista
representaram uma queda de qualidade de vida na última década do século XX.
Muitos
dos habitantes do Leste e das Repúblicas da CEI tem imigrado para países da
Europa ocidental, como Portugal e Espanha, depois que países como Inglaterra,
Alemanha e França dificultaram a entrada de estrangeiros. São Romenos,
ucranianos, búlgaros, georgianos e russos, entre outros. Normalmente vão
encontrar colocação na construção civil e no setor de serviços das grandes
cidades. Fugindo das crises provocadas pela transição capitalista, eles vão à
procura de melhores condições de trabalho e de vida nessa outra parte da Europa
onde o capitalismo já é um velho conhecido.
Outra maneira de entrar nessa
“outra” Europa é fazer parte da União Européia esse grande bloco que engloba a
economias mais desenvolvidas e industrializadas do continente. Em maio de 2004
oito países do leste europeu, Polônia, Letônia, Estônia, Hungria, Eslováquia,
Lituânia, Eslovênia e República Tcheca ingressaram na União Européia. Romênia e
Bulgária ingressaram em janeiro de 2007. Parece que a transição para o
capitalismo nessa região do leste europeu vem alcançando algum sucesso. Embora
venham a ser os membros mais pobres da União Européia poderão contar com os
investimentos e a ajuda econômica dos outros países do bloco. No caso da
Rússia, o abismo social entre os novos milionários russos e a maioria da
população e os conflitos separatistas de natureza étnica deverão ser os maiores
desafios nesse início do século XXI.
Fonte:
http://pontodehistoria.blogspot.com.br/2011/08/russia-e-o-leste-europeu-pos-urss.html
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